No dia 4 de outubro de
2019, festa de São Francisco de Assis, na presença do Papa Francisco e de
outros altos dignitários eclesiásticos, realizou-se nos Jardins do Vaticano uma
cerimônia de caráter claramente religioso, como declarado no comunicado de
imprensa do Vaticano de 4 de outubro de 2019: “Durante a cerimônia de oração
que encerrou a iniciativa ‘Tempo da Criação’, recentemente promovida pelo Papa
Francisco, foi plantada uma árvore de Assis como símbolo da ecologia integral,
para consagrar o Sínodo da Amazônia a São Francisco, no próximo 40º aniversário
da proclamação papal de Poverello de Assis como padroeiro dos amantes da
ecologia. No final do ato, o Papa rezou o Pai Nosso. Representantes dos povos
indígenas da Amazônia, frades franciscanos e vários representantes da Igreja
participaram da cerimônia.”
O que essa declaração
ocultou foi o fato de, durante essa cerimônia de oração, terem ocorrido ritos
religiosos das religiões pagãs dos nativos sul-americanos. Houve gestos e
palavras que expressavam um culto religioso a figuras mitológicas da religião
aborígine; acima de tudo, atos de prosternação foram realizados diante de duas
figuras femininas grávidas nuas, que deveriam representar a fertilidade. Também
havia uma dança religiosa em torno dessas figuras, na qual uma mulher vestida
de xamã usava chocalhos que simbolizavam os deuses pagãos da fertilidade. O uso
das “maracás” ou chocalhos pelo xamã significa nos cultos indígenas da Amazônia
a voz dos espíritos e eles são usados para reivindicar a ajuda do poder dos
animais e dos espíritos. As “maracás” são um dos instrumentos mágicos mais
poderosos para esses povos. A cabeça da “maracá” é uma cabaça (abóbora), com a
cabeça do chocalho com a haste representando a união fecundante do mundo
masculino (haste) com o mundo feminino (cabaça). Exatamente essas “maracás”
foram usadas na “Cerimônia de Oração” em 4 de outubro.
As estátuas
representando mulheres grávidas nuas foram então colocadas brevemente na Basílica
de São Pedro, em frente do túmulo de São Pedro, novamente na presença do Papa.
Depois durante todo o
tempo do Sínodo Amazônico na igreja de Santa Maria Traspontina [foto ao lado],
em Via della Conciliazione, onde foram realizadas cerimônias regulares de
oração, e isso numa igreja com o tabernáculo e a presença eucarística de
Cristo. Além disso, a estátua da mulher grávida e nua foi levada no dia 19 de
outubro em uma Via Sacra, organizada pelos participantes do Sínodo.
Nos primeiros dias após
essas cerimônias, o Vaticano evitou mencionar o significado exato das duas
figuras femininas grávidas nuas. Somente depois de tais figuras terem sido
removidas em 21 de outubro da igreja de Santa Maria em Traspontina e jogadas no
Tibre [foto ao lado], foi que o próprio Papa Francisco anunciou, em 25 de
outubro, a identidade delas como devendo simbolizar a Pachamama: “Gostaria de
dizer uma palavra sobre as estátuas de Pachamama que foram removidas da igreja
na Traspontina e que estavam lá sem intenções idólatras e jogadas no Tibre.
Isso foi feito pela primeira vez em Roma e, como bispo da diocese, peço
desculpas pelas pessoas ofendidas por esse gesto.”
O padre jesuíta
Fernando López, um dos organizadores da veneração das estátuas de Pachamama no
Vaticano, disse que as mesmas foram compradas num mercado de artesanato em
Manaus, na Amazônia brasileira, acrescentando que a Pachamama faz sentido para
todos nós, e que devemos continuar “a dança da vida em honra da Mãe Terra”.
Declarar que todos
esses atos de culto a estátuas de Pachamama, ocorridos em igrejas durante uma
cerimônia de oração, não tenham sido atos de culto nem de religião, mas apenas
uma expressão da cultura e do folclore, algo inofensivo e trivial, é negar as evidências
e fugir da realidade.
Em face do grave fato
de tais atos dúbios de culto religioso — os quais são obviamente pelo menos
próximos da superstição e da idolatria —, alguns cardeais, bispos, padres e
muitos leigos protestaram publicamente, tendo alguns deles inclusive chamado o
Papa Francisco a arrepender-se e fazer atos de reparação. Infelizmente, essas
vozes corajosas são criticadas até por bons católicos, muitas vezes com o
argumento de que isso significaria um ataque pessoal ao Papa Francisco. Tal
raciocínio lembra muito a história das novas roupas do rei… Outros consideram o
culto às estátuas de Pachamama inofensivo e comparam esta questão à disputa
sobre os chamados ritos chineses (chamados de “disputa de acomodações”) nos
séculos XVII e XVIII. Aqueles que fazem tais afirmações não têm conhecimento
factual do significado da Pachamama para os povos indígenas e na propaganda
mundial da nova “religião Gaia ou Mãe Terra” em nossos dias, nem tampouco um
conhecimento mais detalhado do problema histórico dos ritos chineses e da sua
solução no século XX.
O fato de o fenômeno
“Pachamama” ter uma conotação claramente religiosa já prova sua definição nas
fontes de informações geralmente acessíveis e mais frequentemente consultadas
como, por exemplo, na Wikipédia, que afirma: “Pacha Mama ou Pachamama (do
quíchua Pacha, ‘universo’, ‘mundo’, ‘tempo’, ‘lugar’, e Mama, ‘mãe’, ‘Mãe
Terra’) é a deidade máxima dos povos indígenas dos Andes centrais. Vários
autores consideram Pachamama como uma divindade relacionada com a terra, a
fertilidade, a uma mãe, o feminino. Pacha-Mama, segundo o conceito que tem
entre os índios, poderia ser traduzido no sentido de ‘terra grande, diretora e
sustentadora da vida’. A terra, como geradora da vida, será então assumida como
um símbolo de fecundidade.”
Quem já lidou com o
movimento ambiental global, ouviu sem dúvida o termo Gaia. Gaia é um
renascimento do paganismo que rejeita o cristianismo, que vê o cristianismo
como seu maior inimigo e a fé cristã como o único obstáculo a uma religião
global que se concentra no culto a Gaia e na unificação de todas as formas de
vida concentradas em torno da deusa “Mãe Terra” ou “Pachamama”. Uma sofisticada
mistura de ciência, paganismo, misticismo oriental e feminismo fez desse culto
pagão uma ameaça crescente à Igreja cristã. O culto à “Mãe Terra”, ou “Gaia” ou
“Pachamama” é o foco da política ambiental global de hoje.
A Assembleia Geral da
ONU de 2009 proclamou 22 de abril como o “Dia da Mãe Terra” internacional.
Naquele dia, o presidente boliviano Evo Morales [foto ao lado, no ritual à
Pachamama], um autoproclamado adorador de Pachamama, fez esta declaração à
Assembleia Geral das Nações Unidas: “Pachamama — a ‘Mãe Terra’ do Quéchua — é
uma divindade fundamental da visão de mundo nativa, baseada sobre um total
respeito pela natureza. A terra não nos pertence, mas nós pertencemos à terra.”
O fato de a expressão
“Mãe Terra” ou “Pachamama” não ser um nome cultural inofensivo, mas de possuir
traços religiosos, prova-o, por exemplo, também o Manual do Professor publicado
em 2002 pela UNESCO com o título significativo “Guia do Professor Pachamama”.
Nesse manual se afirma, entre outras coisas: “Imagine, a Mãe Terra assume uma
forma física e imagine como seria encontrá-la. Como ela ficaria? Sobre o que
você conversaria com ela? Quais seriam sua principal preocupação e suas
perguntas? Como você as responderia? Onde você poderia encontrá-la [a Mãe
Terra]? Pense em um lugar onde você poderia encontrá-la”. Um lugar, por
exemplo, onde alguém poderia encontrar a “Mãe Terra” ou “Pachamama” na
representação de mulheres grávidas nuas esculpidas em figuras de madeira seria
na cerimônia de oração nos Jardins do Vaticano, no mencionado dia 4 de outubro
de 2019; na Basílica de São Pedro, na Via Crucis de 19 de outubro, e na igreja
de Santa Maria em Traspontina, em Roma.
Dom José Luíz Azcona
[foto ao lado], bispo emérito da Prelazia Amazônica Marajó, rejeitou de maneira
convincente a absurdidade e insustentabilidade da tese, de que o culto de
Pachamama no Vaticano foi uma coisa insignificante. Ele é um conhecedor das
religiões e costumes dos índios amazônicos, entre os quais viveu por mais de 30
anos e os evangelizou. Em uma carta aberta de 1º de novembro de 2019, Dom
Azcona salientou que eram especialmente os “pequeninos” da Igreja — e,
sobretudo, os índios amazônicos que se converteram e que vivem intensamente a
fé católica —, que foram escandalizados pela veneração da Pachamama no
Vaticano. Eles estavam confusos e profundamente magoados em seu senso de fé católico.
A seguinte declaração de Dom Azcona é comovente: “Mas esse mesmo gesto [de
veneração da Pachamama] constituiu um escândalo (e não farisaico) para milhões
de católicos no mundo inteiro. Especialmente para os pobres, ‘os pequenos’,
para os ignorantes, ‘os fracos’ que evidentemente têm o ‘sensus fidei’ (sentido
da fé) tão justa e permanentemente defendido pelo Papa Francisco e
violentamente golpeados em sua consciência inerme, indefesa por completo diante
de tamanha violência religiosa. E de modo particular foram os pobres, os
simples, ‘os fracos’, os desprotegidos da Amazônia, os mais atingidos por esse
impacto idolátrico. Eles sentiram no mais íntimo, ao menos na Amazônia
brasileira, este ataque contra a fé cristã, contra a convicção eclesial de que a
única Rainha da Amazônia é Nossa Senhora de Nazaré, Mãe do Deus Criador e
Redentor. Nenhuma outra mãe, nenhuma outra Pachamama andina ou de onde for, e
tampouco nenhuma Iemanjá!”
Dom José Luíz Azcona
também se referiu ao impacto devastador que os atos públicos de culto a
Pachamama no Vaticano tiveram sobre os protestantes fiéis: “Para os irmãos
Evangélicos e Pentecostais este escândalo tem tido um efeito devastador.
Horrorizados, têm sido testemunhas de cenas de verdadeira idolatria e, entre o
espanto e o estupor, se confirmam agora mais e mais na convicção errada de que
católico é adorador de ídolos. Já não de santos, santas, José, Maria, senão de
verdadeiros demônios. Desta maneira, o diálogo ecumênico-inter-religioso ficou
abalado com consequências humanamente irreparáveis e com complicações
ecumênicas pesadas para quem queira entender o mistério da igreja como
‘Sacramento Universal de Salvação’ (Lumen Gentium) também para os Pentecostais.”
Dom Azcona afirmou de
modo apropriado que a ideia e o simbolismo da “Mãe Terra”, da “Gaia”, e também
da “Pachamama”, difundidos hoje, não podem ser destacadosmental e
religiosamentedo fenômeno das muitas divindades-mães pagãs históricas: “Lembremos
as inúmeras Mãe-Terra que precederam e acompanharam a Pachamama como deusas da
fecundidade, da fertilidade, em culturas e religiões de todos os tempos, duas
do âmbito bíblico. No Antigo Testamento, a Astarte (Asherà) é a deusa da
fecundidade, do amor sensual e representada nua. […] No Novo Testamento, no
livro dos Atos dos Apóstolos 19, 23-40; 20,1 Ártemis de Éfeso ‘a Grande’, deusa
da fecundidade representada com a metade do corpo cheio de mamas, resumia o que
se entende pela estatua da Mãe-Terra Pachamama”.
A comparação do culto à
Pachamama no Vaticano com a disputa histórica dos ritos chineses é factualmente
insustentável. Os rituais chineses envolviam atos de veneração à imagem de
Confúcio, uma pessoa histórica que era reverenciada como um grande herói
nacional e pensador da cultura chinesa. Além disso, tratava-se de veneração a
antepassados falecidos. Em ambos os casos, antes dos retratos dessas pessoas
históricas, eram realizados atos de veneração, como uma inclinação ou acender
velas. Como esses ritos nos séculos XVII e XVIII ainda estavam associados às
crenças supersticiosas do confucionismo como religião, a Igreja os proibiu
rigorosamente, para evitar qualquer aparência de superstição e idolatria. No
século XX, os atos de veneração a Confúcio eram de natureza puramente civil e
ocorreram em lugares não sacros e não religiosos. Além disso, as efígies dos
antepassados eram veneradas pelos católicos sem a inscrição usual “sede da
alma”, como era habitual entre os pagãos chineses. Assim, após cessar qualquer
aparência de superstição e idolatria, a Santa Sé permitiu os ritos chineses em
1939 por uma Instrução da Congregação da Propaganda Fide; contudo, sob as
seguintes condições: é permitido fazer apenas uma inclinação de cabeça diante
de uma imagem de Confúcio que for exibida nos locais civis, e se se temer um
escândalo, a intenção correta dos católicos deve ser explicada publicamente.
Além disso, a Instrução diz que os católicos só podem apresentar gestos de
veneração de natureza puramente civil e, se necessário, explicar sua intenção
para eliminar qualquer interpretação incorreta desses atos. O mesmo se aplica
ao ato de veneração aos retratos dos antepassados. Além disso, a Igreja
Católica permitiu o uso de apenas do nome divino inequívoco, isto é, “Senhor do
Céu”, e proibiu outros nomes divinos chineses ambíguos, como “Céu” ou “Deidade
Suprema” ou “Imperador Supremo”, proibição que não foi revogada pela Instrução
de 1939.
A diferença essencial
entre os ritos de culto à Pachamama e os chamados ritos chineses é o fato de a
Pachamama ser uma construção das mitologias pagãs, isto é, adora-se um mito
puro ou um conglomerado inanimado e impessoal de matéria, como a terra.
Quem afirma que o culto
à Pachamama era inofensivo e não se revestia de aspeto religioso, mas apenas
cultural, seria ensinado melhor por uma oração à Pachamama publicada no
contexto do Sínodo Amazônico pela “Fondazione Missio”, órgão da Conferência
Episcopal Italiana, onde é dito: “Pachamama, boa mãe, sê-nos propícia! Sê-nos
propícia! Deixa a semente ter um bom sabor, que nada de ruim aconteça, que não
a perturbea geada, que produza boa comida. Pedimos-te: dá-nos tudo! Sê-nos
propícia! Sê-nos propícia!”.
O culto de Pachamama
praticado no Vaticano durante o Sínodo da Amazônia é uma forma de superstição
idólatra por conter gestos que em sua forma original implicam o culto à “Mãe
Terra” enquanto uma divindade ou uma forma de superstição não idólatra. Pois
esse culto de Pachamama expressa a crença na terra como se ela fosse um ser
vivo e pessoal; portanto, é um sincretismo que introduz elementos enganosos no
culto cristão, que, afinal, sempre deve ser direcionado ao Deus verdadeiro.
Em um artigo publicado
em 23 de outubro de 2019 na página internet Infocatolica
(www.infocatolica.com), Pe. Nelson Medina, OP [foto ao lado], missionário na
Amazônia colombiana, desmascara a fraude do culto supostamente inócuo de
Pachamama com a seguinte declaração apropriada: “Devo dizer que a imagem que
foi levada a Roma não é representativa da Amazônia colombiana, e acredito que
de nenhum lugar da Amazônia. A figura não representa nada ‘ancestral’ da
cultura da Amazônia. Levar tais imagens a esse local sagrado só pode significar
que elas são consideradas como tendo um significado religioso porque, caso
contrário, seriam expostas em uma galeria de arte ou em um museu de história
étnica ou amazônica. A gente pode dizer que a imagem representa fertilidade,
mulher ou vida. Mas então a pergunta é: nossa fé adora a fertilidade, a vida ou
a mulher como tal? Se essa imagem não tem caráter de culto, por que colocá-la
junto ao altar onde o sacrifício único e suficiente de Cristo está presente?
Não é exatamente essa a violação escandalosamente pública do Primeiro
Mandamento da Lei de Deus?”.
Os representantes do
Vaticano também usaram São John Henry Newman para com sua ajuda legitimar o
culto de Pachamama. Contudo, esta comparação é exagerada e factualmente
imprecisa, como o demonstrou de forma convincenteo Pe. Nelson Medina ao indicar
que John Henry Newman estava se referindo a algumas ações ou objetos
relativamente neutros em si mesmos e que podem ser transformados em seu
significado e usados na Igreja. As imagens projetadas para o Sínodo Amazônico
não têm nada dessa neutralidade: “celebrar a ‘vida’ sem adorar a Deus, o único
Criador, é simples paganismo. E com os ídolos pagãos, seja o bezerro de ouro ou
o dinheiro dos comerciantes no templo de Jerusalém, são necessárias ações
firmes e claras […] que podem alcançar o Tibre”.
Em todos os tempos, e
também através da Instrução de 1939 sobre os ritos chineses, a Igreja Católica,
à imitação fiel do comportamento dos Apóstolos, esteve escrupulosamente
engajada em suas palavras e ações, para evitar qualquer sombra de idolatria
(idolatria) e de superstição (superstitio), bem como para não dar a menor
aparência disso (ver também São Tomás de Aquino, Summa theol., IIa IIae, q 93,
a.1).
Ainda sobre o culto à
Pachamama no Vaticano, o advogado italiano pró-vida Gianfranco Amato (ver seu
ensaio em “La Verità” de 14 de novembro de 2019) o resume do seguinte modo:
“Retratar Pachamama
como um ícone da cultura indígena da Amazônia não significa apenas distorcer a
realidade, mas negar e humilhar a diversidade das verdadeiras culturas
amazônicas a fim de impor uma visão teológica indígena para impor objetivos
puramente ideológicos e políticos.
“O presidente mexicano
López Obrador [foto ao lado] realizou um ritual em homenagem à divindade
Pachamama para solicitar permissão de construir a ferrovia Maya no sudeste do
México. Hugo Chávez, Nicolas Maduro, Cristina Fernández de Kirchner, Andrés
Manuel Lopez Obrador, Evo Morales e Daniel Ortega são apenas alguns chefes de
Estado que participaram oficialmente de cultos em homenagem à Mãe Terra.
Portanto, não é apenas um fato religioso puramente peruano, mas estamos diante
de um fato político real que está inserido em uma agenda política precisa que
promove o pensamento panteísta. Exclui a ideia cristã de um Deus transcendente
em relação à criação e coloca a dignidade da terra acima da dignidade da pessoa
humana. Uma revolução cultural copernicana está sendo tentada: superar o
antropocentrismo da modernidade com um ‘geocentrismo’ ecológico. A Terra, e não
o ser humano deveria estar agora no centro do cosmos, a tal ponto que já
ouvimos discursos em que a limitação dos direitos humanos em favor dos
‘direitos’ da Terra é teorizada.
“A Pachamama é um
engano teológico para os cristãos. Como vimos, é uma divindade inca pagã. As
imagens que a reproduzem do ponto de vista teológico são simplesmente ídolos. O
fato de um teólogo, um padre, um bispo, um cardeal, um papa ou um simples
crente não conseguir reconhecer esse fato aparentemente indiscutível parece
realmente perturbador e completamente incompreensível. Poderíamos dizer que
estamos diante de um novo eclipse de consciência, desta vez não na esfera da
lei da vida, mas na esfera do primeiro e mais importante mandamento: nos
direitos de Deus. A isso advém a circunstância agravante de que não apenas a
consciência de um povo, mas a consciência da própria Igreja é obscurecida por
esse culto de Pachamama. À luz da revelação divina contida na Palavra de Deus,
na Tradição da Igreja e no Magistério, a pergunta é muito simples: fazer ídolos
para adoração é um pecado muito grave. Prostrar-se diante dos ídolos é idolatria.
Oferecer-lhes dons e sacrifícios, carregando-os em triunfo, colocando-os em um
trono, coroando-os e queimando-os incenso é uma idolatria manifesta totalmente
imoral. Colocá-los em altares ou em igrejas consagradas para adorá-los é uma
profanação verdadeira e clara.
“O culto à Pachamama é
uma decepção em termos de compreensão da tolerância. A sensibilidade dos fiéis
parece ferida quando experimentam o sombrio espetáculo de ídolos adorados nas
igrejas católicas. É um fato profundamente desagradável que requer uma
condenação estrita. Isso não é falta de respeito ou tolerância em relação a
pessoas que professam uma religião diferente. Respeitamos as crenças religiosas
de todos, mas trata-se de impor tolerância à idolatria nas Igrejas católicas e
em locais profanados pela presença de ídolos. Isso não é aceitável. Tolerar
tudo isso significa ser cúmplices da profanação. Por esse motivo, o gesto de
‘idoloclasmo’ (destruição de ídolos), corajosamente realizado na Igreja romana
de Santa Maria na Traspontina, é a expressão da mais nobre fé. Não é assunto de
calúnia, mas merece um elogio.
“O culto à Pachamama é
um engano da inculturação. O princípio da inculturação é a proclamação do
Evangelho, que pode ser acolhida por todos os povos de todas as culturas. O
dinamismo da evangelização leva a um processo gradual de transformação da
cultura que acolhe a Palavra de Deus e penetra no coração da mesma cultura
através da conservação do bem, da purificação do mal que está contido nela, e
traz uma evolução dinâmica da fé que sempre pode renovar tudo. Sem considerar o
critério do contraste não podemos falar de inculturação. É claro que a
evangelização é um contraste necessário com os graves aspectos imorais das
culturas que ela busca alcançar e, obviamente, exige a renúncia à idolatria.”
A saga da Pachamama é
um raio-x preciso do estado interior da Igreja neste momento dramático da
História, lembrando das palavras verdadeiramente proféticas do Prof. Joseph
Ratzinger em seu ensaio Os novos pagãos e a Igreja, publicado pela primeira vez
na revista “Hochland” (outubro de 1958). As seguintes palavras chocantes de
Joseph Ratzinger podem certamente ser lidas como uma espécie de comentário
atual sobre o acontecimento do culto à Pachamama ocorrido no Vaticano e
justificado pelo Papa Francisco: “O paganismo hoje está na própria igreja, e é
isso que caracteriza a Igreja de nossos dias, bem como o novo paganismo, de que
é um paganismo na Igreja e uma Igreja em cujo coração vive o paganismo”.
As seguintes palavras
flamejantes do coração de Dom José Luíz Azcona, um missionário amazônico e um
digno sucessor dos apóstolos, continuam brilhando na história: “Um dos aspectos
mais vergonhosos deste gesto idolátrico [no Vaticano] tem sido o esmagamento da
consciência dos ‘pequenos’ pelo escândalo.”
Em vista do fato
inegável da gravidade objetiva dos atos de culto à Pachamama no Vaticano, com
suas nítidas implicações pseudo-religiosas e sua instrumentalização pela
propaganda da religião mundial globalista da “Mãe Terra”, pode-se ainda falar
de inocuidade desses atos ou refugiar-se no álibi dos “ritos chineses”? Isso
significaria defender o indefensável.
Na época da grande
confusão eclesial doutrinal e pastoral da crise ariana no século IV, Santo
Hilário de Poitiers [quadro ao lado], o Atanásio do Ocidente, tinha a convicção
de que esse estado não devia ser aceito com silêncio ou por uma minimização da
situação. Estas suas palavras, citadas a seguir, são extremamente oportunas e
assaz aplicáveis ao escândalo acontecido no Vaticano pela veneração da
Pachamama: “A partir de agora, o silêncio não seria mais chamado de discrição,
mas de inércia” (Contra Const. 1).
Todos na Igreja dos
nossos dias que não minimizaram nem aceitaram silenciosamente os atos de culto
a Pachamama no Vaticano, mas levantaram sua voz de advertência, devem ser
objeto de gratidão e apreço, antes de tudo os leigos que, movidos por seu senso
sobrenatural de fé e através de seus atos, expressaram seu verdadeiro amor e
respeito pelo Papa e por sua Mãe, a Santa Igreja Católica.
18 de novembro de 2019
+ Athanasius Schneider,
Bispo Auxiliar da
Arquidiocese de Santa Maria em Astana
* Matéria publicada
orignalmente em alemão no site Kath.net (19-11-19). Em inglês foi publicada por
www.lifesitenews.com (20-11-19).
Via: www.abim.inf.br
Permitiram que uma
deidade estranha, ou seja, satanás disfarçado, fosse acolhido, adorado e
honrado dentro da Igreja?
NÃO OFENDAM MAIS A
NOSSO SENHOR QUE JÁ ESTÁ MUITO OFENDIDO! (Nossa Senhora em Fátima, 13 de
outubro de 1917)
Todos aqueles que
apoiaram este Sínodo, se calaram, defendendo e aprovando estas coisas erradas
são culpados diante do Trono de Deus, perdendo a luz de seus olhos e de suas
almas. Cegos que guiam outros cegos!...Que tristeza. Heresia pura!
Piedade Senhor, para os
Bispos desobedientes.
Piedade Senhor, para os
Sacerdotes rebeldes.
Piedade Senhor, para os
Consagrados que vivem como verdadeiros pagãos.
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