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Bento XVI: Cristo é a medida do verdadeiro humanismo.




Is 61, 1-3a. 8v-9
Ef 4, 11-16
Jo 15, 9-17




Detenhamo-nos apenas sobre dois pontos. O primeiro é o caminho rumo à "maturidade de Cristo"; assim diz, simplificando um pouco, o texto italiano. Mais precisamente deveríamos, segundo o texto grego, falar da "medida da plenitude de Cristo", que somos chamados a alcançar para sermos realmente adultos na fé. Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste ser crianças na Fé? Responde São Paulo: significa ser "batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina..." (Ef 4, 14). Uma descrição muito atual!
Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.
Ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Devemos amadurecer esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé só esta fé que gera unidade e se realiza na caridade. São Paulo oferece-nos a este propósito em contraste com as contínuas peripécias dos que são como crianças batidas pelas ondas uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, também na nossa vida, verdade e caridade fundem-se. A caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria como "um címbalo que retine" (1 Cor 13, 1). (Homilia, segunda-feira, 18 de abril de 2005)


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Amados sacerdotes, a qualidade da vossa vida e do vosso serviço pastoral parece indicar que, nesta como em numerosas outras Dioceses do mundo, já deixamos para trás o tempo daquela crise de identidade que atormentou tantos sacerdotes. Mas permanecem muito presentes aquelas causas de "deserto espiritual" que afligem a humanidade do nosso tempo e por conseguinte minam também a Igreja que vive nesta humanidade. Como não temer que elas possam insidiar também a vida dos sacerdotes? Por conseguinte, é indispensável voltar sempre de novo à raiz do nosso sacerdócio.
Esta raiz, como bem sabemos, é uma só: Jesus Cristo Senhor. Foi Ele que o Pai enviou, Ele é a pedra angular (cf. 1 Pd 2, 7). Nele, no mistério da sua morte e ressurreição, o reino de Deus vem, e cumpre-se a salvação do género humano. Mas este Jesus nada possui que lhe pertença pessoalmente, é tudo totalmente do Pai e para o Pai. Por isso, Ele diz que a sua doutrina não é sua, mas daquele que o enviou (cf. Jo 7, 16): o Filho sozinho nada pode fazer (cf. Jo 5, 19.30).
Não somos enviados a anunciar a nós próprios ou opiniões nossas mas o mistério de Cristo
E esta, queridos amigos, é também a verdadeira natureza do nosso sacerdócio. Na realidade, tudo o que é constitutivo do nosso ministério não pode ser o produto das nossas capacidades pessoais.
Isto é válido para a administração dos Sacramentos, mas também para o serviço da Palavra: somos enviados a anunciar não a nós próprios ou opiniões nossas, mas o mistério de Cristo e, nele, a medida do verdadeiro humanismo. Não fomos encarregados de dizer muitas palavras, mas de nos fazermos eco e portadores de uma só "Palavra", que é o Verbo de Deus feito carne para a nossa salvação. Por conseguinte, também para nós é válida a palavra de Jesus: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou" (Jo 7, 16). Queridos sacerdotes de Roma, o Senhor chama-nos amigos, faz de nós seus amigos, confia-se a nós, confia-nos o seu corpo na Eucaristia, confia-nos a sua Igreja. E então devemos ser verdadeiramente seus amigos, ter com ele um só sentir, desejar o que Ele deseja e não desejar o que Ele não deseja. O próprio Jesus diz-nos: "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando" (Jo 15, 14). Seja este o nosso propósito comum: fazer, todos juntos, a sua santa vontade, na qual estão a nossa liberdade e a nossa alegria.
Dado que tem em Cristo a sua raiz, o sacerdócio é, por sua natureza, na Igreja e para a Igreja. Com efeito, a fé cristã não é algo de meramente espiritual e interior e a nossa própria relação com Cristo não é apenas subjetiva e privada. Ao contrário, é uma relação totalmente concreta e eclesial. Por sua vez, o sacerdócio ministerial tem uma relação constitutiva com o corpo de Cristo, na sua dupla e inseparável dimensão de Eucaristia e de Igreja, de corpo eucarístico e de corpo eclesial. Por isso, o nosso ministério é como diz Santo Agostinho, amoris officium (In Iohannis Evangelium Tractatus, 123, 5), é o ofício do bom pastor, que oferece a sua vida pelas ovelhas (cf. Jo 10, 14-15). No mistério eucarístico Cristo oferece-se sempre de novo e precisamente na Eucaristia nós aprendemos o amor de Cristo e, por conseguinte, o amor à Igreja. Portanto, repito convosco, queridos irmãos no sacerdócio, as inesquecíveis palavras de João Paulo II: "A Santa Missa é de modo absoluto o centro da minha vida e de todos os meus dias" (Discurso de 27 de Outubro de 1995 no trigésimo aniversário do Decreto Presbyterorum ordinis). E esta deveria ser uma palavra que cada um de nós pode considerar sua: a Santa Missa é de maneira absoluta o centro da minha vida e de cada um dos meus dias. (Discurso aos sacerdotes, 13 de maio de 2005)

Estas sim são palavras claras, verdadeiras,fortes e seguras de um Papa que nos mostra Deus, que nos mostra Cristo, que nos explica sobre o verdadeiro humanismo em Cristo.


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