Que outra coisa são estas peles de ovelhas senão as palavras dos Profetas e dos Apóstolos, com as quais estes mesmos, com mansa simplicidade, revestiram como um véu ao Cordeiro imaculado que tira o pecado do mundo? Quem são, ao contrário, os lobos vorazes, senão as doutrinas selvagens e raivosas dos hereges, que infectam o redil da Igreja, para desgarrar, da melhor maneira possível, o rebanho de Cristo? Para surpreender mais facilmente as incautas ovelhas, mascaram seu aspecto de lobos, ainda que conservando sua ferocidade, vestindo-se com frases da lei Divina como a um véu, para que, ao sentir a brandura da lã, as ovelhas não suspeitem de seus dentes afiados. Mas, o que nos diz o Salvador?
“Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt7,16)
Quer dizer, quando já não se dão por satisfeitos em citar e pregar as palavras divinas, e então começam a explicar e comentá-las, se manifestará sua amargura, sua aspereza e sua raiva; então se exalará um novo odor e aparecerão as novidades ímpias; então se verá pela primeira vez as setas arrancadas e ultrapassados os limites postos pelos pais; ultrajada a fé católica e o dogma da Igreja feito em pedaços. Pessoas desta ralé eram as fustigadas pelo Apóstolo em sua segunda carta aos Coríntios:
“Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo,” (2Cor 11,13)
Que significa “se disfarçam em apóstolos de Cristo”? Os Apóstolos citavam textos da Lei Divina, e aqueles faziam o mesmo; os Apóstolos se apoiavam na autoridade dos Salmos e dos Profetas, e aqueles também. Mas quando começaram a interpretar de maneira diferente os mesmos textos, então se distinguiram os sinceros dos falsários, os genuínos dos artificiais, os retos dos perversos, em uma palavra, os verdadeiros Apóstolos dos falsos.
“O que não é de espantar – explica São Paulo – Pois, se o próprio Satanás se transfigura e manjo de luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros de justiça” (2Cor 11,14-15) (Comunitório, São Vicente de Lerins)
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