O que publicamos aqui é parte do Catecismo da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, do R.
P. Tomaz Pègues O.P. Iremos publicando outras partes dele à medida que
se façam necessárias. A obra como um todo, porém, parece padecer
especialmente de dois defeitos de entendimento ou de explicação com
respeito à doutrina do Aquinate:
• de entendimento, quanto às relações entre poder civil e poder eclesiástico;
• de explicação, quanto à tese da predestinação.
Ao longo do tempo, trataremos estas duas questões da maneira devida.
Lembremos sempre: Como disse o Papa Pio XII, Santo Tomás de Aquino é “o mais sábio dos santos, e o mais santo dos sábios”.
* * *
PECADOS DE PALAVRA NOS ATOS ORDINÁRIOS DA VIDA:
INJÚRIA, DIFAMAÇÃO (MALEDICÊNCIA E CALÚNIA),
MURMURAÇÃO, IRRISÃO E MALDIÇÃO
“Também a língua é um fogo, um mundo de iniquidade. A língua está
entre os nossos membros e contamina todo o corpo; e sendo inflamada pelo
inferno, incendeia o curso da nossa vida.” (Tiago 3,6)
Quais são as injustiças de palavra que na vida se cometem contra o próximo?
São as de injúria, difamação, murmuração, irrisão e maldição (LXXII-LXXVI).
Que entendeis por injúria?
Entendem-se
por injúria, insulto, ultraje, e às vezes por menosprezo, censura e
repreensão, as palavras que se usam para qualificar excessos ou
injustiças, o fato de afrontar a alguém por palavra ou obra, agravando-o
tanto na honra, como no respeito e consideração que se lhe merece
(LXXII, 1).
A injúria é pecado mortal?
Quando
as palavras ou fatos constituem por sua natureza ultraje grave, e
existe intenção formal de ofender, sim, senhor; porém será venial,
apesar do exposto, quando a honra do ofendido não fica seriamente
comprometida, ou falta no agressor intenção de injuriar (LXXII, 2).
Têm todos os homens obrigação estrita de justiça de tratar os outros, quaisquer que sejam, com a devida consideração e respeito?
Sim, senhor; visto que este respeito mútuo é de grande importância para a boa harmonia nas relações sociais (LXXII, 1-3).
Em que se funda e qual é a importância desta obrigação?
Funda-se
em ser a honra um dos bens que os homens têm em maior estima, e, por
consequência, há obrigação de tratar com as devidas considerações até os
mais humildes e pequenos, sempre em harmonia com a sua condição;
afrontá-los, deprimi-los, humilhá-los com olhares, gestos e palavras é
mortificá-los naquilo que mais amam (Ibid.).
Logo,
estamos obrigados a evitar, em presença de outros, qualquer palavra ou
fato que possa mortificá-los, humilhá-los ou entristecê-los?
Sim, senhor (Ibid.).
A ninguém é permitido afastar-se desta regra?
A
ninguém, exceto os superiores com o fim exclusivo de corrigir os seus
súditos, quando realmente o mereçam, ainda que, neste caso, jamais devem
fazê-lo alucinados pela paixão, nem com formas e modos arrebatados ou
indiscretos (LXXII, 2 ad 2).
Como devemos portar-nos com os que nos injuriam e ofendem?
A
caridade e a mesma justiça podem exigir que não deixemos impunes os
atentados diretos ou indiretos contra a nossa honra ou de outras pessoas
que nos estão confiadas. Porém, ao reprimir a audácia do ofensor,
devemos guardar a circunspecção precisa e sobretudo o modo de não
devolver novo agravo ou injustiça (LXXII, 3).
Que entendeis por difamação?
No
sentido estrito, consiste em atentar por meio de palavras contra a
reputação e bom nome do nosso próximo, ou em fazer-lhe perder, total ou
parcialmente, e sem razão nem motivo justificado, a estima e
consideração dos outros (LXXIII, 1).
É a difamação um pecado muito grave?
Sim, senhor; porque arrebata ao próximo bens mais estimáveis que a riqueza, objeto do pecado do roubo (LXXIII, 2, 3).
Quantas classes há de difamação?
Quatro diretas: imputar ao próximo culpa ou delito
que não cometeu; exagerar os seus defeitos; divulgar segredos que lhes
sejam desfavoráveis; e atribuir-lhe intenções e propósitos torcidos, ou,
ao menos, suspeitos, nas suas melhores ações (LXXIII, 1. ad 3).
Existe alguma outra maneira de difamar o próximo?
Há
outra, indireta, que consiste em negar-lhe as suas boas qualidades ou
silenciá-las com malícia ou diminuí-las dissimuladamente (Ibid.).
Que entendeis por murmurar, ou semear cizânia?
O
pecado do que diretamente se propõe, por meio de frases ambíguas e
pérfidas insinuações, introduzir a discórdia entre os que se acham
unidos com laços de amizade e mútua confiança (LXXIV, 1).
É pecado muito grave?
É
o mais grave, odioso e digno de reprovação perante Deus e os homens, de
quantos de palavra se cometem contra o próximo (LXXXIV, 2).
Que entendeis por irrisão?
A
irrisão, zombaria ou chacota injuriosa é um pecado de palavra contra a
justiça, e consiste em ridicularizar o próximo em sua presença,
encontrando nele defeitos e torpezas que lhe façam perder o domínio de
si mesmo, nas relações com os outros (LXXV, 1).
É um pecado grave?
Sim,
senhor; porque envolve desprezo da pessoa, e o desestimar e ter em
pouco a outrem é ato detestável e digno de reprovação (LXXV, 2).
Confunde-se a ironia com o pecado de irrisão, e tem a mesma gravidade?
Pode
a ironia ser falta venial, quando, com ela, a modo de diversão, se
criticam defeitos leves, sem desdenhar nem ofender as pessoas. Pode
acontecer que não seja falta quando não passa de travessura e passatempo
inocente, nem haja perigo de mortificar nem contrariar a quem dela é
alvo. De qualquer modo, é um sistema de diversão muito delicado e
melindroso e convém usá-lo com extrema prudência (LXXV, 1 ad 1).
Pode ser a ironia, em alguma ocasião, ato de virtude?
Manejada
com habilidade e delicadeza, é um meio de que pode utilizar-se o
superior para admoestar e repreender os súditos, e também pode
empregar-se entre iguais, a modo de caritativa correção fraterna.
Que precauções devem tomar-se nestes casos?
Antes
de tudo, deve usar-se com grande tacto e discrição, porque, se bem que
às vezes pode ser útil abater, até limites justos, a vã opinião que de
si mesmo têm os propensos à jactância, é preciso também não destruir a
segurança e confiança legítima que cada um deve ter em si mesmo, sem a
qual se paralisa toda iniciativa e espontaneidade, convertendo a vítima
da ironia em um ser tímido e irresoluto, degradado e envilecido aos seus
próprios olhos.
Que relações têm a injúria, a difamação, a murmuração e a irrisão com o hábito vicioso de maldizer?
Têm
de comum estes vícios o serem pecados de palavra contra o próximo e
diferenciam-se em que os quatro primeiros consistem em proposição ou
enunciados com que se imputam males ou se negam bens, e a maldição em
invocar o mal para que caia sobre os nossos semelhantes.
É a maldição ou praga ato essencialmente mau?
Sim, senhor; porque é desejar o mal pelo mal; por consequência, é sempre, e por sua natureza, falta grave (LXXVI, 3).
* * *
É pecado a porfia ou contenção?
É
pecado quando se porfia pelo prazer de contradizer; também o é, com
maioria de razão, quando se prejudica o próximo, ou os foros da verdade;
também o é, finalmente, quando, ainda que se defenda a verdade, se faz
em tom imoderado e com palavras mortificantes (XXXVIII, 1).
“Seis coisas há que o Senhor
odeia e uma sétima que lhe é uma abominação: olhos altivos, língua
mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, um coração que maquina
projetos perversos, pés rápidos em correr ao mal, um falso testemunho
que profere mentiras e aquele que semeia discórdias entre irmãos.” (Provérbios 6,16-19).
Ora, se o homem mentiroso é singularmente
abominado por Deus, quem o poderia livrar dos mais rigorosos castigos?
Depois, haverá coisa mais torpe e infame, como reparou São Tiago, do que
“servir-nos da mesma língua com que bendizemos a Deus Pai
para maldizer os homens, feitos à imagem e semelhança de Deus. É como
uma fonte que, pela mesma abertura, jorra água doce e água salobra.” (Tiago
3,9-11). Com efeito, a mesma língua que antes louvava e glorificava a
Deus, põe-se depois, pela mentira, a cobri-Lo, quanto pode, de injúrias e
ofensas.
Essa é a razão por que os mentirosos são
excluídos da posse da celeste bem-venturança. Por isso, quando Davi se
dirigiu a Deus com a pergunta: “Quem morará na Vossa casa?” – o Espírito Santo lhe respondeu: “Aquele que diz a verdade no seu coração, e que não solta em calúnias a sua língua”. (Salmo 14,1-3).
O pior dano da mentira é que ela
constitui doença do espírito quase incurável, pois o pecado de calúnia e
o de detração ou fofoca, contra a fama e o bom nome do próximo, não são
perdoados enquanto o acusador não prestar satisfação ao ofendido pelas
injustiças praticadas. Isso, porém, se torna muito difícil aos homens,
antes de tudo, porque se deixam levar por sentimentos de falsa vergonha e
falsa dignidade. Ora, não podemos duvidar que com tal pecado na
consciência a pessoa se condena aos eternos suplícios do inferno.
Ninguém pode, tampouco, esperar o perdão
de suas calúnias e detrações se antes não der satisfação a quem foi por
ele lesado na fama ou consideração, quer em juízo público quer em
conversas familiares e reservadas, segundo a grave advertência de Nosso
Senhor Jesus Cristo que disse: “No dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido.” (Mateus 12,36).
FONTE: http://spessantotomas.blogspot.com.br/2011/08/pecados-de-palavra-nos-atos-ordinarios.html
http://fratresinunum.com/2011/06/02/a-difamacao-e-a-calunia/
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