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Os sofrimentos de Cristo



Uma das razões pelas quais Jesus Cristo quis sofrer a dor no seu corpo e na sua alma, foi para nos demonstrar que era verdadeiro homem, com a nossa mesma natureza, que sentia como nós a tortura e os insultos, que não era “de bronze e de pedra” (Jó 6, 12).
Quando sentimos a força das tentações, não devemos desanimar e pensar que perdemos a graça de Deus. Estes sentimentos não são pecados, mas manifestações da debilidade natural do homem. O Senhor quis sentir esta fraqueza, fazendo-se igual a nós – exceto no pecado – para que nós nos fizéssemos iguais a Ele, na fortaleza e na obediência à vontade de Deus... Como diz Santo Ambrósio: “Não devem ser considerados valentes, os que mais feridas recebem, mas os que mais sofrem por elas”. Quis o Senhor participar como nós das dores do corpo e também das tristezas da alma, porque quanto mais participasse dos nossos males, mais participantes nos fariam dos seus bens. “Tomou a minha tristeza – diz Santo Ambrósio – para me dar a sua alegria; com meus passos desceu à morte, para que com os seus passos eu subisse à vida”.
Tomou o Senhor as nossas enfermidades para que fôssemos curados; castigou-se a si mesmo pelos nossos pecados, para que nós recebêssemos o perdão. Curou a nossa soberba com as suas humilhações; a nossa gula, bebendo fel; a nossa sensualidade, com a sua dor e a sua tristeza.
Por outros motivos que ultrapassam o conhecimento humano, nosso Senhor misericordioso e amoroso, quis ser açoitado, esbofeteado, coroado de espinhos, ter os pés e mãos perfurados; como também permitiu que os enviados das trevas o atormentassem e a tristeza se apoderasse do seu coração.
O Senhor teve muitos motivos para ficar triste, e como não quis que fossem atenuados, sofreu uma angústia de morte em seu Coração. Aquele dia fora exaustivo para Jesus. Caminhou de Betânia a Jerusalém, celebrou a ceia pascal, lavou os pés dos Apóstolos, instituiu o Sacramento da Eucaristia e o repartiu com seus discípulos. Conversou durante muito tempo, procurando animá-los e confortá-los; esquecendo-se de sua aflição, para acalentá-los, consumindo-se nesta entrega afetuosa. Disse-lhes que eles eram os seus amigos, os escolhidos, companheiros de suas penas; que deveriam estar mais unidos a Ele que o sarmento à videira; que a dor seria breve, e a alegria grande; que lhes enviaria o Espírito Santo para defendê-los e ensiná-los. Que Ele partiria na frente recebendo no seu corpo as feridas, e eles alcançariam a vitória depois. Disse-lhes por último que os deixaria, e que voltaria para seu Pai, e isto era uma felicidade tão grande, que deveriam ficar alegres, e depois retornaria e os levaria para junto d’Ele no céu.
Sofreu muito por Judas, demonstrou isto, várias vezes naquela noite, até o ponto de não poder disfarçar mais a tristeza. Lutando contra a dureza do seu coração, usou leves insinuações, palavras claras e diretas, e com provas de particular amizade e carinho, não conseguiu vencer. Teve tanta dor e desgosto, ao ver um amigo se converter em traidor.
Na despedida de sua Mãe, a dor de Maria Santíssima despedaçou o seu Coração.
Em todas estas ocasiões tinha procurado dominar-se, mostrar confiança, esconder o que se passava no seu íntimo; para confortar os seus e cumprir como dever naquela última ceia. Mas esta tristeza contida trouxe ainda mais dor, quando o Senhor se viu só no horto, longe dos oitos discípulos que haviam ficado à entrada, começou a chorar; mostrou toda a sua amargura, desejava aliviar o coração, consolar-se com o amor e a lealdade dos três discípulos mais queridos. E foi a eles que disse: “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26, 38).
Sentia grande aflição ao ver a perversidade dos seus inimigos. Do ódio nascia o desejo de matá-lo, de inventar injúrias, de o torturarem e de zombarem de sua amargura. Era como se o inimigo triunfasse e Deus o tivesse abandonado. Deus o abandonou. Persegui-o e prendei-o, porque não há ninguém para livrá-lo (Sl 70, 11). Esta sensação de ser oprimido pelos seus inimigos, de que tinha chegado o momento de desejarem todo seu ódio contra Ele, fazia que chamasse ao Pai em seu auxílio: “Olhai, Senhor para minha miséria, porque o inimigo se ensoberbece” (Lm 1,9).
Ao escutarmos o bramido de um touro ou o rugido de um leão, mesmo protegidos, ficamos apavorados em imaginar o que poderia acontecer, se estas feras estivessem soltas; assim, podemos pensar na angústia que sentia Jesus, rodeado de tantas pessoas furiosas e com o poder de fazer com Ele o que quisessem. O povo escolhido voltou-se ferozmente contra Cristo, assim o profeta indicava: Meu povo foi para mim qual leão na floresta, a rugir contra mim (Jr 12, 8).
Em outra profecia, encontramos este ódio dos príncipes dos sacerdotes e do povo: Cercam-me touros numerosos, rodeiam-me touros de Basã; contra mim eles abrem suas goelas, como leão que ruge e arrebata (Sl 21, 13 – 14).
O Senhor conhecia os planos de seus algozes. Muito tempo antes o profeta antecipava toda dor e sofrimento: Instruído pelo Senhor, eu o desvendei. Vós me fizestes conhecer seus intentos. E eu, qual manso cordeiro conduzido à matança, ignorava as maquinações tramadas contra mim (Jr 11, 18-19).

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
Anápolis, 30 de agosto de 2016

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